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Afeto e pertencimento: Oficina de Produção Textual para o Enem busca inserir mulheres no ambiente acadêmico

publicado: 30/09/2022 09h32, última modificação: 30/09/2022 09h47

“Por que ter um curso para mulheres assim, com monitoras mulheres? Porque eu acho que essa rede é a rede que faz sentido e fortalece. É uma questão de gênero”. É assim que a professora de português do IFMG - Campus Ouro Preto, Elke Pena, explica o mecanismo por trás da Oficina de Produção Textual para o Enem: Universidade é Lugar de Mulher. O projeto de extensão, voltado a ensinar as técnicas da redação do Enem para mulheres em vulnerabilidade social, teve seu último encontro no dia 8 de setembro. Agora, os organizadores refletem os seus aprendizados e as alternativas ao modelo.

A ideia para o curso surgiu com o Edital 21/2022, da reitoria, que selecionou dezoito ações de extensão voltadas a mulheres em situação de vulnerabilidade social. A professora Elke, que também faz parte do BASTA! - Núcleo de Enfrentamento da Violência de Gênero no IFMG, viu ali uma oportunidade para ampliar a sua atuação na luta contra a desigualdade de gênero ao acesso e à permanência de mulheres nas universidades.

A iniciativa contou com a colaboração dos professores André Batista e Camila Gomes, também da CODALIP, além da participação das bolsistas Laira de Cassia Souza Ferreira e Vitória de Souza Oliveira.

No processo de criação das oficinas, uma série de elementos foram considerados tendo em vista um objetivo: a inserção de mulheres em um espaço onde elas nem sempre se sentem pertencentes. As aulas, por exemplo, foram oferecidas no campus para que as participantes tivessem a oportunidade de visitar o IFMG. Elke lembra que, ainda que o acesso das mulheres à universidade tenha aumentado nos últimos anos, questões sociais e raciais ainda interferem nessa presença.

No âmbito do IFMG - Campus Ouro Preto, uma pesquisa realizada em 2019 por alunos do primeiro ano do curso técnico integrado em Administração mostrou que 59,9% dos estudantes do campus já haviam vivenciado ou presenciado alguma situação de desigualdade de gênero dentro do ambiente escolar. Além disso, 80% dos entrevistados respondeu acreditar que existe desigualdade de gênero na instituição.

A bolsista Laira Ferreira, do terceiro ano de Metalurgia, vê essa disparidade como uma forma de violência: “A gente vê que a violência não necessariamente vem na forma de um grito, ela não necessariamente vem em uma forma de uma agressão física”.

 

 Afetos

No combate à desigualdade de gênero, os professores da Oficina de Produção Textual para o Enem decidiram ir além: estabeleceram que apenas meninas seriam selecionadas como monitoras. A escolha parte da vivência da própria Elke: “Eu já venho de uma experiência de grupos de mulheres para diversos fins e eu percebo que há ali uma força que faz com algumas questões aconteçam, avancem. É um lugar de afeto, de acolhimento, de troca”.

A relação foi proveitosa. Laira conta que, no seu círculo pessoal, muitas mulheres acreditam que a universidade não é “lugar para elas”. Para a bolsista, fazer parte do projeto não significa mudar apenas a realidade das participantes, mas também a sua própria.

Nas declarações de todos os colaboradores, uma palavra sempre se repete: afeto. “Foi um trabalho que partiu acho que, ali no começo, de uma acolhida. A questão da acolhida trouxe o afeto e a possibilidade de abertura”, explicou André.

A palavra também guiou o planejamento das aulas que surgiam durante as próprias oficinas, de acordo com a necessidade de cada aluna. “A gente precisava enxergar um pouco como esses níveis de conhecimento funcionavam pra gente poder trabalhar em cima disso. Tinham questões pessoais que eram distintas também, e que atravessavam a aula”, disse o professor.

  

Reconstrução

Quando perguntada sobre novas edições, Elke é enfática: o desejo existe, mas é preciso pensar novas formas de alcançar o público-alvo. Das 30 vagas oferecidas, apenas 26 foram preenchidas e só três alunas efetivamente participaram das aulas. Ela diz que chegou a ligar para as inscritas e as respostas que recebeu como motivo para as ausências rodeavam a falta de transporte e as dificuldades em conciliar o horário de trabalho com o projeto. Ou seja, o projeto retorna ao motivo da sua própria existência: a falta de acessibilidade de certas mulheres ao ambiente acadêmico.

A oficina ficará sem novas edições enquanto os professores encontram alternativas para encher a sala de aula. “Eu acho a gente como comunidade no campus Ouro Preto tem que pensar como a gente faz com que as pessoas passem a ocupar esses espaços aqui como seu, o que é de fato. [...] Porque o desejo e a necessidade existem”, diz Elke.

Laira afirma que a grande dificuldade para as próximas edições é superar uma distância simbólica, pois “são mulheres que estão tão perto da gente, mas tão distantes ao mesmo tempo da nossa realidade”. Por isso, a coordenadora das oficinas discute a possibilidade de oferecer as aulas no bairro Taquaral, levando o IFMG a essas mulheres, para, só então, convidá-las a visitar e participar do Instituto.

 


 

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