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O que dizer sobre você, Mãe?

Leia, na íntegra, a crônica que o IFMG - Campus Ouro Preto preparou para o Dia das Mães. O texto reflete a percepção de um filho sobre a realidade vivida por sua mãe.
publicado: 07/05/2022 22h22, última modificação: 07/05/2022 22h22

Hey, mãe!

Gastei longas horas imaginando como poderia ser diferente um texto para dedicar a você neste dia, que se repete ano após ano. Em dias passados, gastei nosso estoque de fotos no Instagram, relembrei do seu amor em textos pra lá de clichês no Facebook e fiz uma thread com suas frases mais marcantes no Twitter. Mas como me reinventar e pensar em algo que eu já não tenha feito?

Bom, para isso preciso dizer que inspiração não me falta, afinal diariamente sobram exemplos de determinação vindos daquela obsessão constante em querer cuidar de tudo e de todos. Concilia, como ninguém, os rolês complicados da sua vida com a criação da minha, desde o período em que eu estava quentinho (e quietinho) na sua barriga, causando enjoos e mudanças radicais em seu corpo.

Logo que aprendi, escrevo retratos de uma mãe heroína invencível. E como tentam enfiar essa balela goela abaixo… A natureza da realidade de ser e estar se distancia do que reza a lenda da perfeição. Apesar de possuir uma capa, que te permite sobrevoar as adversidades comigo no colo, por vezes as turbulências nos arremessam ao chão.

Embora não imagine, eu sinto apenas o sopro dos furacões dos quais me protege. O temor de não dar conta dos mil e dois afazeres que lhes são empurrados, a peleja para contornar as muralhas erguidas em seu cotidiano de mulher, o peso das responsabilidades a ti incumbidas e o meu quarto constantemente bagunçado parecem te sufocar. Não por menos.

- “Tem por que chorar?”

Longe de ser uma exclamação envolta de reprimenda às emoções, a sonora repreensão foi, geralmente, uma das formas de (tentar) controlar as minhas mais insanas birras de criança. Mas, confesso que meus peitos chegam a inflar para te chacoalhar quando me deparo contigo escondida, afogada em prantos. O frenesi de uma jornada recheada de desencontros, cobranças e medos cansam, né? Toda vez que te vejo assim, quero enxugar suas lágrimas e extrair aquele precioso sorriso acanhado. Tenho consciência de que os problemas hão de continuar, quem sabe até piorar, porém o calor de um abraço sincero tem o poder de acolher, teletransportar e te ajudar a emergir do lago da solidão.

Está tudo bem em desaguar, despir-se das vestes da grife “maternidade encantada". Ser mãe não é roubar para si as angústias do mundo para resolver em casa ou no trabalho, sempre feliz e disposta a agradar. Pode até ser, entretanto, pelo que percebo, ser mãe é um exercício prático de tentativas, erros e acertos. Não há manual que possa oferecer a chave milagrosa de como educar, corrigir e ser. Sabe, a vivência diária é repleta de falhas. Não se desgaste com exigências internas, comparações e conselhos vãos. Acredite, os enganos correm pelo sangue humano, de todos nós! Vai por mim, encare com leveza os tombos, pois só com eles nos tornamos confiantes tanto para andar de bicicleta como para lidar com os infortúnios, assim como me ensinou.


O dia-a-dia é feito de inconstâncias. Ora são generosos puxões de orelha quando deixo a desejar nas provas de Física, ora não tão generosos impropérios quando esqueço a toalha sobre a cama. Risos envergonhados ao pedir conselhos sobre os lancinhos na escola, como também gritos estridentes frente às minhas desobediências. No fim, entre trancos e barrancos, gritos e abraços, afagos e advertências, a gente se entende.

Sinto-me tão tolo por querer qualificá-la com aqueles adjetivos tão fugazes. Seria um bocado injusto enquadrá-la em simples palavras prontas. A complexidade de ser quem é não consta nos dicionários, nos livros didáticos, tampouco nos de autoajuda, mas sim nos sabores e dissabores do que proporciona essa experiência que testa sua força, paciência e resiliência. Admiro a coragem e a humanidade em dividir o que te faz mulher comigo.

Continue a me ensinar a viver. Estamos aqui, um pelo outro.

Feliz (todos) seus dias!