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Curso de Engenharia Elétrica forma seu primeiro estudante surdo

Aluno do Campus Itabirito apresentou um protótipo de automação residencial para surdos em seu trabalho de conclusão de curso. Conheça a história de Filipe Vieira Brison.

“Um estudante ‘fora da curva’'. Esta foi a definição encontrada pelo professor Elias José de Rezende Freitas ao descrever a trajetória do estudante Filipe Vieira Brison, do IFMG Campus Avançado Itabirito. Com apenas 31 anos e surdo, Filipe em breve receberá o título de bacharel em Engenharia Elétrica. 

Intitulado “Protótipo Huet: automação residencial utilizando Libras”, o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) foi apresentado no dia 24 de maio e traduzido simultaneamente pelo intérprete de libras, Paulo Mendanha. Visando conectar objetos do cotidiano (eletrodomésticos, por exemplo) à internet, o protótipo Huet acaba se diferenciando por ser capaz de reconhecer alguns sinais de Libras para acionar equipamentos. 

De acordo com Filipe, o protótipo Huet foi batizado em homenagem a Ernest Huet, professor surdo francês e que foi responsável pela criação da primeira escola para surdos no Brasil: o Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES). Ainda em fase inicial de desenvolvimento, Filipe explica o funcionamento do protótipo. “Ele é composto de um nó central (um microcomputador de baixo custo, Rasberry Pi) que realiza o processamento das imagens capturadas de forma descentralizada por várias plataformas microcontroladas ESP32-CAM e que podem ser espelhadas pela casa. Ao identificar um determinado sinal de Libras pré-programado, o nó central envia uma mensagem via WiFi para outro microcontrolador que aciona/desaciona um relé, permitindo ligar ou desligar uma lâmpada ou um ventilador, por exemplo”, explicou. 

Questionado sobre o comprometimento e dedicação de Filipe, o professor Elias fala sobre a emoção em ter participado de diversos momentos importantes na vida acadêmica do estudante. “O Filipe é um aluno "fora da curva"! Tive a possibilidade de ministrar algumas disciplinas para ele ao longo do curso de Engenharia Elétrica, orientei o trabalho desenvolvido no intercâmbio e agora fui o orientador no Trabalho de Conclusão de Curso. Ele é um exemplo de muito esforço, dedicação e sucesso. Aprendi muito como professor, pois para mim foi muito novo dar aula e orientar uma pessoa surda, conhecer essa realidade e poder contribuir com a comunidade”, disse o professor ao revelar a possibilidade de apresentar o protótipo em um congresso nacional. 

Segundo o professor, os encontros de orientação eram acompanhados por intérpretes, além de outros recursos como a utilização de legenda automática e do Google Docs. “Tivemos que encontrar um modo de nos compreendermos. O final dessa jornada foi muito emocionante. Emoção em ver o Filipe apresentando o TCC com muita propriedade e desenvoltura, respondendo aos questionamentos da banca e, principalmente, buscando entender o que a banca estava propondo de melhorias foi algo marcante. Com certeza, o protótipo desenvolvido por ele será um passo na acessibilidade tecnológica para sua comunidade”, destacou Elias Rezende, atualmente lotado no Campus Ibirité. 

 

Ao ser perguntado sobre planos futuros, Filipe pensa em iniciar um mestrado e investir na carreira de engenheiro eletricista. Após passar um período como servidor público da Câmara de Itabirito, Brison hoje atua em Belo Horizonte, na área de elétrica e automação, desenvolvendo projetos de aterramento e de proteção contra descargas atmosféricas. (SPDA).  

Temporada em Portugal 

Em 2019, Brison foi o primeiro estudante surdo da Rede Federal a participar de intercâmbio acadêmico, uma iniciativa do Programa Internacionaliza do IFMG. Durante cinco meses, o estudante esteve no Instituto Politécnico do Porto (IPP) trocando experiências e desenvolvendo parte da pesquisa “Desenvolvimento de dispositivo para auxílio de pessoas surdas ou com deficiência auditiva capaz de captar e indicar o choro de bebês”.  

Sobre ter morado no Porto (Portugal), Filipe fala sobre os desafios encontrados em ‘terras estrangeiras’ e o aprendizado conquistado ao superar os obstáculos. “Primeiramente, aprendi a viver de forma mais independente e, longe da minha família, amadureci muito com essa experiência. A dificuldade foi a comunicação com portugueses e estrangeiros, mas consegui falar com eles por escrito no celular e mostrei indicações por escrito quando fui sozinho aos lugares”, disse Brison.  

Porém, Filipe não esteve sozinho nesta temporada em Portugal. O estudante foi acompanhado pelo tradutor de Libras, Paulo José Chaves Mendanha, do Campus Itabirito. “O Filipe basicamente promoveu certas revoluções no Campus”, disse o intérprete. “Ele ingressou em 2016 na graduação e foi aprovado nas vagas de ampla concorrência, sendo o primeiro aluno surdo do ensino superior no Campus Itabirito. Na época, não havia profissional de Libras no campus e, por conta disso, a contratação emergencial fez-se necessária. Durante os cinco anos do curso, o Filipe foi acompanhado por dois tradutores em todas as atividades acadêmicas (aulas, seminários, palestras, visitas técnicas). Com a entrada dele, professores e estudantes foram se adaptando e entendendo as necessidades de uma pessoa surda. O que é mais legal nessa história foi o interesse que ele despertou nos colegas em aprender Libras. Já em Portugal, apesar de termos o mesmo idioma, a linguagem de sinais é diferente. Por este motivo estive acompanhando-o nesta missão internacional”, conta Mendanha. 

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