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Joias do Saara: IFMG - Campus Ouro Preto participa de projetos de cooperação na Argélia

publicado: 03/07/2023 14h20, última modificação: 07/03/2024 10h01

O IFMG - Campus Ouro Preto, em uma parceria com a Agência Brasileira de Cooperação, ligada ao Ministério das Relações Exteriores, tem se destacado em projetos que visam ao fortalecimento do segmento joalheiro na Argélia. 

O projeto de Cooperação Brasil/Argélia iniciou-se em 2005, inicialmente no Ministério de Minas da Argélia, que seguiu para o Ministério do Artesanato. Um Acordo de Cooperação Técnica entre o governo brasileiro e a União Africana foi assinado em 28 de fevereiro de 2007. Assim, em 2016, foram oferecidos cursos e contribuições, pelo Campus Ouro Preto, para a criação de uma escola de joalheria em Tamanrasset. Nesta cidade,  prevalecia o cooperativismo familiar, então, em dezembro de 2017, foi realizado no Campus Ouro Preto o treinamento de alunos da Escola do Artesanato de Tamanrasset.

Em 2023, o Campus foi novamente convidado a dar continuidade à cooperação com novos projetos: "Transformação criativa de rochas e minerais do Saara em artesanato, gemas e joias" e "Desenvolvendo estratégias para aumentar a produção da Cooperativa de Joias Tertit N Ahhagar, em Tamanrasset, Argélia". O professor Gilberto Machado foi a Tamanrasset, em março, para avançar com essas iniciativas.

A criação de uma cooperativa de artesãos e a implementação de uma escola nacional de joalheria da Argélia, vinculada ao Ministério do Artesanato, estão entre os objetivos. Os professores do campus ministrarão cursos online e presenciais nas áreas de gemologia, lapidação e ourivesaria, visando capacitar os artesãos locais como futuros docentes da escola. “Seremos formadores dos multiplicadores”, explica o docente. Ao final, eles poderão participar de um processo que vai selecionar os artesãos com perfil para atuarem como professores e dar continuidade a este projeto”, explica Machado.

Joias do Saara

Envolvidos na elaboração de estratégias para aumentar a produção dos artesãos por meio de cooperativa, e, ao mesmo tempo, contribuir para o aprimoramento de técnicas e habilidades, os docentes brasileiros terão o desafio de atuar junto a arranjos produtivos familiares. “Há famílias localizadas com certa distância uma das outras, que não se comunicam. No caso, essa escola vai fazer uma união de saberes e cultura, o que não é muito fácil, devido à forma como trabalham. Será preciso fazer uma adaptação”, explica o coordenador da área de Joalheria do Campus Ouro Preto, Benedito Deveza. “Lá, a joalheria é um ofício passado de pai para filho. Em Tamanrasset, eram os nômades do deserto que desenvolviam essa atividade. Trabalhavam sentados no chão, com ferramentas rudimentares, embora hoje já utilizem ferramentas um pouco mais modernas”, complementa Machado.

Embora o foco seja impulsionar a economia local ao desenvolver métodos mais eficientes, visando à criação de joias de qualidade e com forte apelo mercadológico, Deveza ressalta a necessidade de se apresentar novas técnicas aos artesãos sem, contudo, interferir nas características que são próprias da região. “Esse é o desafio: fazer um link entre o tradicional, a cultura, o arranjo produtivo local familiar e a técnica de fabricação das joias. A grande riqueza deles é exatamente a cultura, que não pode se perder diante das novas técnicas de fabricação”, reforça.

Os próprios docentes procuram incentivar os artesãos no que tange à valorização do que é próprio daquele lugar. “Eles queriam trabalhar com gemas de outros países e design da Europa, de onde recebem grande influência. Mas insistimos que devem trabalhar a própria cultura. Todo mundo vai querer ter uma gema do deserto do Saara, uma joia feita pelos tuaregues, nômades do deserto. Por isso, vamos ofertar cursos que trabalhem essa transformação criativa das gemas, exatamente para que eles possam desenvolver um design com apelo cultural”, contextualiza o professor. 

Intercâmbio de saberes

Para os docentes, a parceria tem se mostrado extremamente benéfica para ambos os países, já que o Campus tem a oportunidade de expandir sua expertise em joalheria, ao mesmo tempo em que contribui para o desenvolvimento socioeconômico da região de Tamanrasset. Por sua vez, a Argélia se beneficia com a transferência de conhecimentos, fortalecendo seu setor de joias.

“São experiências que vamos adquirindo até mesmo como artistas, no caso da joalheria. Quando você vai, você traz conhecimentos também. Essa experiência internacional é super importante para ser compartilhada com nossos alunos”, afirma Gilberto Machado.

A valorização da economia do artesanato é um dos destaques dessa troca de saberes, segundo Benedito Deveza: “Lá, eles levam isso muito a sério, com muitos incentivos. Eles se preocupam com os arranjos locais, pois apesar de ser um país rico, o povo é pobre, com muitas características socioeconômicas parecidas com as nossas. Saber tratar com esses arranjos produtivos locais é um aprendizado sobre o qual o IFMG pode se debruçar melhor”.

O cronograma inclui, ainda, a visita dos artesãos argelinos ao Brasil e uma formatura em Brasília, ao final de 2025. Eles participarão, ainda, de uma exposição, que exibirá os resultados alcançados durante a parceria. O Campus Ouro Preto também receberá os formandos, promovendo interação e compartilhamento de experiências.

Texto: Comunicação - Campus Ouro Preto